Chamada de textos para edição especial:  1974-2024 – CINQUENTENÁRIO DE MORTE DE UM DRAMATURGO BRASILEIRO FUNDAMENTAL: ODUVALDO VIANNA FILHO

2024-02-07

1974-2024 – CINQUENTENÁRIO DE MORTE DE UM DRAMATURGO BRASILEIRO FUNDAMENTAL: ODUVALDO VIANNA FILHO

 

Prof. Dra. Maria Sílvia Betti (FFLCH-USP), Editora idealizadora

Prof. Dr. Agenor Bevilacqua Sobrinho, Editor Convidado

Prof. Dr. Eduardo Campos Lima, Editor Assistente

Prof. Dr. Fernando Bustamante, Editor Assistente

 

Apresentação do dramaturgo para a chamada de trabalhos

Oduvaldo Vianna Filho foi o mais importante homem de teatro do Brasil no século XX. Vianinha, como era chamado, nasceu em 1936, filho de um dramaturgo (Oduvaldo Vianna) e de uma radialista (Deocélia Vianna), e testemunhou as diversas transformações que o teatro sofreu em decorrência de todo o processo de modernização e industrialização do país ao longo das décadas de 50 e 60.

Ligado à militância política comunista através de seus pais, cresceu em contato com quadros históricos do PCB (o Partido Comunista Brasileiro). Ao ingressar no movimento estudantil, ainda na adolescência, participou, juntamente com Gianfrancesco Guarnieri e outros companheiros de militância, da criação do Teatro Paulista do Estudante, deixando clara, desde o início, sua opção artística por um teatro voltado às lutas pela transformação da sociedade.

Ao longo de quase vinte anos de carreira, Vianinha participou de iniciativas fundamentais para a renovação da dramaturgia e do teatro como veículo de reflexões estéticas e políticas: o Teatro de Arena de São Paulo, entre 1955 e 1960, o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, entre 1961 e 1964, e o Grupo Opinião, do Rio de Janeiro, entre 1964 e 1967.

Sua geração lidou, dentro do campo teatral, com a necessidade de repensar e de redefinir o papel do teatro dentro da vida social e política do país. Os desafios que Vianna veio a enfrentar nesse sentido foram cruciais, tanto na área da criação dramatúrgica como no campo do debate de idéias.

O primeiro e mais sério desses desafios foi o de tentar quebrar com os limites de classe que pesavam sobre a produção cultural e que separavam o intelectual e o artista da classe trabalhadora. “A mais valia vai acabar seu Edgar”, de 1961, foi seu trabalho decisivo nesse sentido, tanto por representar um significativo mergulho experimental na linguagem épica, como por haver desencadeado a formação do mais importante núcleo de ativismo cultural que o país já teve, o CPC da UNE (Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes).

Dentro do CPC, Vianinha encontrou outro importante desafio: o de desenvolver uma estrutura formal que representasse, com eficácia e profundidade, os complexos problemas do Brasil nesse momento: a exploração do trabalho, a concentração da riqueza, o latifúndio e a dependência econômica diante do capital internacional.

Seu trabalho teve crucial importância para a criação de um teatro político de rua dentro do CPC, onde ele participou intensamente como dramaturgo e como ator. As apresentações de esquetes, denominados “autos”, abriram uma extraordinária frente de discussão não apenas política mas também estética, e se constituíram num trabalho onde o épico tornou-se a principal ferramenta de expressão artística.

Em 1964, com o golpe militar e a implantação do regime autoritário, a UNE foi metralhada, fechada e posta na clandestinidade, e todos os elos de contato entre os intelectuais de classe média e o proletariado foram sumariamente cortados. A perseguição política e a implantação da censura tornaram impossível a continuidade do projeto cultural do CPC, e Vianinha viu-se forçado a retornar ao teatro comercial, encontrando-se assim diante de um novo e complicado desafio.

Dentro da nova conjuntura, sua prioridade artística passou a ser a expressão da resistência ao golpe, entendida como primeiro passo para a luta contra o autoritarismo. A única forma possível de transmissão de um pensamento de crítica ao regime militar era a do uso de músicas, depoimentos e fragmentos literários que transmitissem metaforicamente aquilo que não se podia dizer de forma direta. Espetáculos de protesto como o show “Opinião”, do qual Vianinha é co-autor, e de “Liberdade Liberdade”, onde trabalhou como ator, acabaram marcando época e mostraram ser veículos representativos dos anseios da classe média intelectualizada de esquerda.

Dois importantes textos escritos por Vianinha nesse período acabaram permanecendo inéditos por muitos anos: “Moço em Estado de sítio”, de 1965, e “Mão na Luva”, de 1966.

Em 1968 o AI-5, um dos atos institucionais do governo militar, veio tornar ainda mais acirrada a repressão política e a perseguição de todos os que se ligassem à esquerda, fosse por afinidade de pensamento, fosse por militância. A necessidade de trabalhar e o desejo de atingir outras faixas de público levou Vianinha a estreitar seus laços com o trabalho na televisão, o que viria a representar seu último e mais complexo desafio.

Embora já tivesse escrito para esse veículo nos anos anteriores, Vianna veio a se tornar, nesse período, um colaborador frequente do programa “Caso Especial”, da Rede Globo de Televisão. A Rede Globo, que em 1965 havia recebido insumos financeiros significativos do grupo estadunidense Time-Life, tinha total afinidade com o pensamento político do governo militar. Embora tivesse plena consciência de tudo isso, Vianinha acreditava na existência de brechas dentro do sistema implantado de rede televisiva, e defendia a estratégica e consciente ocupação delas.

As críticas de que passou a ser alvo por parte da esquerda acirraram-se quando, algum tempo depois, ele veio a assumir, com enorme sucesso de público, a criação de scripts para o seriado “A Grande Família”, juntamente com Armando Costa, seu companheiro do CPC e do grupo Opinião.

A resposta às cobranças sofridas seria dada, de certa forma, em “Rasga Coração”, seu último trabalho teatral e obra-prima da dramaturgia brasileira do século XX. Através de um mergulho histórico cobrindo setenta anos da vida política do país, Vianinha retoma o épico para construir um painel geracional e realizar um balanço das diferentes formas de luta política da esquerda.

Homenageando a velha guarda militante do PCB, ele expressou, na voz do protagonista, Manguari Pistolão, seu próprio inequívoco compromisso com as lutas políticas libertárias:

Revolução pra mim já foi uma coisa pirotécnica, agora é todo dia, lá no mundo, ardendo, usando as palavras, os gestos, os costumes, a esperança desse mundo (....)

Vianinha morreu em 16 de julho de 1974. De lá para cá, suas peças têm se mantido perturbadoramente atuais, e o mergulho no conhecimento de seu trabalho é obrigatório para todos os que desejam aprofundar e enriquecer as perspectivas transformadoras do trabalho teatral e da cultura.

 

CHAMADA DE TRABALHOS PARA O DOSSIÊ

O ano de 2024 assinala o 50º. aniversário da morte de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha [1936-1974]. Este número da Revista Dramaturgia em Foco reunirá e publicará, em memória de seu trabalho, textos ensaísticos e artigos acadêmicos a respeito dos diversos aspectos de sua obra tanto no teatro, como dramaturgo e ator, como na televisão, no cinema, no debate político do país e nas lutas da esquerda.

Os trabalhos poderão ser redigidos em português, espanhol, inglês, italiano e francês, e deverão ser submetidos à plataforma online da Revista: https://www.periodicos.univasf.edu.br/index.php/dramaturgiaemfoco

 

Poderão ser submetidos textos com os seguintes assuntos:

  • Vianinha como autor: dramaturgia, escritos ensaísticos, pensamento estético e político
  • Vianinha como ator no teatro e no cinema
  • Montagens e abordagens cênicas de peças de Vianinha
  • Vianinha e a música popular em sua dramaturgia
  • Vianinha e o debate político da esquerda
  • Produção televisiva de Vianinha

Cronograma

  • O prazo para submissão é 31 de agosto de 2024.
  • Publicação do número até 31 de dezembro de 2024.

 

Sobre a Revista https://periodicos.univasf.edu.br/index.php/dramaturgiaemfoco/about

Diretrizes para autores https://periodicos.univasf.edu.br/index.php/dramaturgiaemfoco/about/submissions#authorGuidelines

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